sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Tratado sobre péssimos namorados

Em 2011 eu tive um namorado.
Eu tinha 17 anos e era meu segundo namoro "em casa", daqueles que a gente apresenta pra família, leva pra festas de parente, assumindo aquela fachada toda que essa vida social nos impõe. 

Nos víamos quase sempre, na saída da escola, e caminhávamos até em casa. Não saíamos muito. Ficávamos em casa, assistindo filmes no sofá da sala. Eu não curtia muito festas, então recusávamos a maioria pra cozinhar em casa (ele, porque eu sempre fui uma negação). Íamos muito ao cinema. 

Quando ficávamos sozinhos, gostávamos de dormir juntos, assistir videos ou ouvir musica. Ele nunca me forçou a nenhum tipo de atividade sexual - e você pode estar chocado assim como eu, porém eu ja revirei minha memória (e meus diários da época) de todas as formas para saber se me enganei, porém não. Se ele estava puto, ele também não comentava os nãos que tomava. 

Durante um período do ano, até separamos nossos dias de encontro para estudar para o vestibular.

Por essas atitudes eu ouvia todo tipo de pergunta: "você nao cansa dele?", "ele nao cansa de você?", "vocês só podem estar de brincadeira! Ele quer perder tempo te ajudando a estudar?", "mas ele não está te traindo?", "mas ele não é gay?"

Eu terminei com ele porque eu sentia falta de algo. Porque eu estava "feliz demais". Esses dias eu entendi que eu me boicotei.

Não quero salva de palmas pra ele, não quero exalta-lo nem nada, não quero focar nesse assunto. Não quero vende-lo como o melhor namorado do mundo, o exemplo de pessoa. Pelo amor! Não é uma propaganda. Ele tinha/tem até hoje muito que desconstruir como homem, cis, hetero; e eu também com minhas imagens sobre esse homem! E é sobre isso que me interessa falar.

O primeiro relacionamento no eu tive algum tipo de voz real, onde havia algum dialogo, eu terminei. Um relacionamento com o mínimo de uma coisa que eu não tinha experimentado antes, chamada respeito, eu terminei. O relacionamento com o qual, eu cresci claro, e também tinha a oportunidade de crescer ainda mais, porque entendi pela primeira vez o lugar do eu, da minha individualidade, dos meus desejos que merecem ser ouvidos, respeitados. A primeira vez que eu tive uma brecha de ar, eu cortei. Porque eu tive medo. Medo de ter respeito. Medo de ter direito. Medo da voz que eu tinha.

A insegurança, alguma coisa só podia estar errada. Eu não queria alguém que me ouvisse e respondesse. 1. Porque um homem nunca respeitaria meu espaço antes do dele, nem por um segundo, a nao ser que estivesse mentindo; 2. Porque eu não aceitava que eu podia ter esse espaço.

Que moleque frouxo. A gente mal briga. Ele deve ta fazendo algo pelas minhas costas. Ele não deveria me pedir mais? Me exigir mais? Eu não to sendo uma namorada ruim porque não quero? E porque ele não quer também? Ele não pode, ele é homem, ele tem que querer. Como pode? 

Eu projetei inúmeras coisas nele, mas principalmente eu projetei inúmeras coisas em mim mesma. Eu queria um garoto que perguntasse: "mas vamos só tentar?" Eu queria um garoto que me largasse no meio dos amigos dele pra me mostrar como prêmio enquanto tomava uma cerveja. Eu queria um garoto que não curtisse frequentar minha casa porque meus pais ficam muito em cima. Que me convidasse pra casa dele pra fugir dessa vigilancia e que mais uma vez me pedisse: "é rapidinho, eu faço devagarinho". E aí eu ia cedendo a beber, a sorrir, a sair, a trepar, a fazer tudo o que eu não queria, mas sendo a namorada dele. E brigando de vez em quando. Eu podendo falar o quanto o odeio, e como isso foi um erro, ele eventualmente me segurando um tanto mais forte - mas depois jurando que isso nunca mais se repetiria. Eu preferia isso a um namorado que tinha o mínimo de vontade de dialogar, que via a necessidade de respeitava meu espaço, que pelo menos não se metia em assuntos que ele não tinha noção, que aceitava eu achar que meu futuro acadêmico precisava de atenção extra, que meu trabalho era importante, e que isso nao tinha nada a ver com eu gostar mais ou menos dele. Porque isso não é um homem, é uma mentira!

Eu vejo meninas assim até hoje. Em relacionamentos como o primeiro só porque também tão impregnadas com um molde de machão. Isso é que é a verdade, A NATUREZA DO HOMEM, se for de outro jeito, é truque.

Não é! A desconstrução é necessária, é possível! E quando você vir uma brecha pra isso, não dê um passo pra trás. Você merece no mínimo, tudo! 

Esse foi o primeiro dos meus passos em falso na longa caminhada que ainda tenho que dar. Num momento em que podia ter dado um passinho a frente, dei dois pra trás - não por terminar com ele, mas por terminar comigo mesma. Abandonar uma jovem mulher que podia descobrir tanto mais de si mesma pra se agarrar a uma menina que era imprensada e pulsava nela a reprodução de um ambiente machista.

R., eu sei de todos os seus defeitos nesse sentido. Todo homem acaba reproduzindo machismo, porque é foda né? E sempre vai se pegar fazendo umas merdas, pra lá e pra cá. Não quero te enaltecer, eu quero pontuar que fui ignorante reforçando uma parada que eu tinha inúmeras cartas na manga pra começar a quebrar.

Espero que você continue assim e que encontre uma mina muito da linda que vai pegar esse mote que eu deixei passar e vai te ajudar nessa sua caminhada, e ela vai acabar ajudando a ela mesma também, o que é super importante.

E pra calar a boca, principalmente dos machinhos de plantão, que colocaram sementes de insegurança na minha cabeça: não que tenha muito mérito diante de todo o quadro horroroso que eu vejo pelo mundo, mas desses meus casos e acasos que me fazem o que sou, você foi o (menos-pior? haha) melhor.


Mas te orienta! Estamos de olho... Você sabe de uma coisa muito importante: o silêncio deve ser usado e daqui pra frente o filtro só aumenta. Seu preconceito, não passará!

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